Ninguém me pediu e muito menos exigiu explicação da atitude que estou tomando. Eu é que me sinto com certo dever de dar uma satisfação a vocês, pois, afinal de contas vivemos em família, e a boa educação me manda pelo menos dizer um “até logo” quando de repente me afasto de uma roda de conversa. Então, digamos que estamos conversando e eu precise me ausentar, que seja por alguns momentos… Ou, quem sabe!…
Na verdade, o anseio de fazer algo mais direto, concreto, para o Reino de Deus, já vem de longa data.
Há pelo menos três, quatro anos, não me lembro bem, a revista Veja, publicou num só número três artigos contra Dom Luiz Cappio, bispo da diocese da Barra, na Bahia, que estava fazendo greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. Com críticas infundadas e puras calúnias, chegou ao ponto de denegrir virtudes suas chamando-o de orgulhoso, quando na verdade é profundamente humilde. Eu o conheço e o tenho na conta de santo, desses de carne e osso, que andam entre nós sem chamar a mínima atenção. A não ser quando a gente tira os olhos das coisas chãs desta terra e os mira para o alto.
Dom Luiz Cappio, sendo de família tradicional de Guará, deixou tudo pelo ideal de servir a Cristo. E quis servi-lo na pessoa do irmão mais pobre e necessitado. Para isso, fez-se frei franciscano e, desde que se ordenou sacerdote, embrenhou-se pelo sertão baiano, lá trabalhando desde os inícios da década de 1970. Conhece muito bem toda a realidade, tanto do Rio São Francisco em si, quanto da população que vive à sua margem, pois já o percorreu, a pé ou de barco, desde a nascente até a foz. Um catecismo seu – Água Viva –, publicado em 1978 pela Editora Santuário, já vendeu centenas de milhares de exemplares. E continua sendo impresso e vendido até hoje.
Quando, então, da reportagem da Veja, escrevi uma carta a ela, que a revista nunca teve a hombridade nem de publicar nem de responder. Prometi que nunca mais sequer poria os olhos em Veja. E disso nasceu a vontade de, um dia, trabalhar junto de dom Luiz. Cheguei até a conversar a respeito com a Benê, que também se dispôs a fazer o mesmo junto comigo. Nossa realidade de vida, no entanto, não o permitiu.
Senti que agora, na situação em que me encontro, estava na hora de realizar esse sonho. Quando, porém, me preparava para escrever a Dom Luiz, o Alceu Biagiotti, da Equipe Nossa Senhora das Famílias, da qual Benê e eu fazíamos parte, me chamou para um jantar que a Equipe ofereceria a Dom Leonardo, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, lá nas proximidades da Ilha do Bananal. O motivo do jantar prendia-se apenas ao fato de Dom Leonardo, quando simples Frei Uli (seu nome verdadeiro é Ulrich Steiner, mas, desde que foi nomeado bispo, optou por colocar antes o nome do pai – Leonardo – para facilitar), ter sido assistente espiritual da nossa equipe, e sempre que tem oportunidade gosta de encontrar os amigos, pois é muito querido por todos. Esse jantar se deu na véspera do encerramento da Assembleia geral anual da CNBB, pela primeira vez realizada em Aparecida. Dom Leonardo já havia sido eleito, por unanimidade, Secretário Geral da CNBB, mas até então eu nada sabia a respeito.
Fui ao jantar. Na viagem de ônibus até Guará, assaltou-me a pergunta: Se estou disposto a trabalhar com Dom Luiz, por que não com Dom Leonardo, que vive uma realidade tão dura quanto a de Dom Luiz? (A Prelazia de São Félix é maior do que o Estado de Santa Catarina, estado natal de Dom Leonardo!) E fui ruminando a ideia. Até que, ao final do jantar, pedi-lhe um minuto de conversa a sós e lhe confidenciei o que me ia na alma, inclusive que a ideia inicial tinha sido a de trabalhar com Dom Cappio. Com um sorriso largo, simplesmente me disse: ‘Se quiser, vamos embora já comigo, mas não para São Félix, e sim para Brasília. Preciso de você na CNBB. Temos de trabalhar muito pela Igreja’. Foi quando me contou que acabara de ser eleito Secretário Geral.
Depois disso, trocamos e-mails e, no final de junho, atendendo a seu pedido, fui até Brasília, para conhecer meu novo lugar de trabalho. E só não fui de vez para lá porque precisava fazer uma cirurgia de catarata, o que já aconteceu. Estou agora num período de acompanhamento médico, aguardando o dia em que me deem alta.
Essa é a história. E eu que me ofereci para ir trabalhar no mato, com gente simples da roça, com quem me sinto à vontade, pois sou “bicho do mato”, dentro de alguns dias me verei no coração mesmo do Brasil. Mas podem ficar certos: sempre que possível, meu descanso de fim de semana será trabalhar com essa gente. Até que Deus o permita!
Toninho
03/08/2011.
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